O Projeto Xondaro veio como um resgate da voz carinhosa da minha avó me chamando de Curumim, quando eu era criança (e eu gostava daquele apelido, mas não entendia muito o por que), do meu olhar admirando a beleza dos cestos indígenas na casa onde cresci, do meu interesse em estudar a educação indígena enquanto cursei Pedagogia…
Agora mais consciente, durante a imersão na aldeia Kalipety, sentia uma afinidade muito grande com os valores Guarani, com a sabedoria que esse povo possui de viver integrado à natureza e a tudo, ao ritmo natural do tempo, do fazer e do descansar, da capacidade que possuem de penetrar no silêncio, no vazio do não-fazer, como se cada ação fosse vivida no aqui e agora, por ser realmente necessária e ofertada à Nhanderu. Sua devoção é o que une palavra-alma, corpo-espírito.

Com todas as difíceis questões pelas quais os indígenas continuam enfrentando, muito da essência dessa cultura está se perdendo, mas foi importante ver o quanto ainda ela se mantém viva, focar o olhar mais no Sim do que no Não, na resistência não pela briga, mas pela ginga, espontaneidade e bom humor Guarani.

O mais conflitante foi me perceber dentro e fora, Guarani e Juruá ao mesmo tempo.

Ao longo do processo de criação e realização das Intervenções Urbanas Esquiva, fui me aterrando, me conectando com minhas raízes, exercitando o com-viver, descobrindo que sou realmente esta dualidade e é aí onde habita minha força, a Curumim guerreira que me ensina que a dança é meu próprio escudo, minha espada abrindo caminhos…